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quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

o livro de receitas da minha mãe


de cada vez que consulto o livro de receitas da minha mãe, acabo sempre por me rir.
a minha mãe não era propriamente uma fada do lar, apesar de no colégio de odivelas, onde passou uma boa parte da infância, ter tido as célebres aulas de "economia doméstica". 
a minha mãe preferia pintar quadros a fazer almoços e jantares. preferia mil vezes devorar chocolates a fazer bolos, e preferia ler livros e jogar crapô a arrumar a casa.
creio que deve ser por isso que o seu livro de receitas é tão esquizofrénico!
passo a explicar: a minha mãe esforçou-se por apontar todas as receitas possíveis e imaginárias, fez listas com os bens essenciais a ter na despesa e os menus semanais que toda a boa dona de casa programa com antecedência. anotou todas receitas especiais da minha avó paterna e as que ela comia em casa de outras pessoas (devo referir que a minha mãe, apesar dos seus 40 kilos e picos  comia como um adolescente em fase de crescimento) e que depois ficavam marcadas como "a bola de carne da joão" ou a "sopa de couve flôr da zé do pinto ângelo".
mas de repente, no meio da cozinha tradicional portuguesa, somos surpreendidos com coisas geniais como:
"receitas para arranjar molduras douradas" -  (com água morna, cola de madeira e gesso estuque ou cimento cola)

a par com:
a pontuação da canasta: canastas limpas - de mão - 1500/de mesa - 400;
                                       canastas sujas - de mão - 1000/de mesa - 200;

canasta de bestes - 2000
flor - 100
florão - 500
fulminante - + 700
canastão - + 700 (5 canastas)
                                       
passando ainda pela estimativa do orçamento mensal:
água, eletricidade, telefone, sr.ª emilía (a nossa empregada) e renda.

esta semana faz 18 anos que a minha mãe morreu, a idade que eu tinha na época. ou seja, já vivi sem ela o mesmo tempo que vivi com ela, no entanto, continuo a aprender muito com tudo o que ela me deixou.